Nas muitas leituras de como conviver e melhor se relacionar com alunos com Expectro autista, gostei muito desta:
De acordo com o mais recente Censo Escolar divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil registrou, no intervalo de um ano, aumento de 37,27% no número de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) matriculados em classes comuns. São 105.842 crianças e adolescentes com autismo estudando em escolas regulares – números de 2018. É um cenário considerado positivo do ponto de vista da educação inclusiva, mas que envolve o desafio de garantir uma aprendizagem significativa ao aluno com TEA, principalmente ao professor, que precisa repensar métodos e adquirir novas habilidades para desenvolver aulas inclusivas.
Uma situação comum entre professores que recebem pela primeira vez em sala de aula um aluno diagnosticado com TEA é a sensação de não estarem preparados para essa nova situação. De acordo com Jocimara Chiarello Rocha, psicóloga e professora do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário, nesses casos, é importante o professor tentar conhecer o aluno, pois cada criança com TEA apresenta aspectos e comportamentos diferentes.
“É importante conhecer este aluno, entrar em contato com a família, com os profissionais externos que o atendem. Dado que o professor não tem um conhecimento maior das dificuldades e da maneira como esse aluno se comporta, é importante conhecer sobre o transtorno. Então, deve-se procurar bibliografia relativa ao assunto, buscar uma formação, uma pós-graduação, um contato com profissionais que já conheçam os desafios que esse transtorno pode acarretar em sala de aula. Além da formação, os profissionais da própria escola também podem auxiliar”, explica Jocimara.
Como identificar um aluno com TEA
É na escola, assim como na família, que os sintomas e as características do transtorno do espectro autista se mostram, por isso a escola é fundamental no registro desses comportamentos para serem reportados aos profissionais de avaliação. Contudo, a psicóloga e coordenadora do curso de pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista: Aspectos Clínicos e Educacionais da FAE Business School, Giovanna Beatriz Kalva Medina, alerta que não cabe à escola fazer um diagnóstico de nenhum transtorno ou atraso, “essa é função do médico neuropediatra a partir de uma avaliação multiprofissional com a participação de psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo. Aos professores, cabem a descrição dos comportamentos e a elaboração de estratégias para o ensino desse e dos demais alunos”.
Sinais do autismo
A relação interpessoal, manifestada por demonstração de afeto, como o abraço, por exemplo, pode ser difícil para pessoas com autismo em função da hipersensibilidade corporal, no entanto Giovanna reforça que este não é o único critério, pois alguns autistas são afetivos, gostam de beijar e abraçar, como outras crianças. Outros sinais que podem ajudar a identificar crianças e adolescentes com autismo são:
- atraso na fala em comparação a outras crianças da mesma faixa etária;
- interesses restritos a determinadas coisas como gostar em excesso de certo brinquedo de forma a ficar significativamente chateado caso fique sem;
- balançar o corpo do mesmo jeito por longo período, ou balançar as mãos, ou objetos;
- hipersensibilidade a sons, toque, luzes ou sabores;
- dificuldade em ficar em lugares barulhentos ou dificuldade com a textura de materiais, como massinha, ou algo áspero.
Antes e depois do diagnósticoA mera desconfiança de que a criança possa ser autista normalmente gera ansiedade tanto na família quanto nos professores que convivem com ela. Por isso, Giovanna defende que, diante dos primeiros sinais, os professores comecem a pensar em estratégias para ensinar a criança. “Não se pode esperar o diagnóstico, que às vezes demora. A criança não pode perder tempo, pois a infância é um momento decisivo para o desenvolvimento do indivíduo, necessitando de muita estimulação”.
Após a confirmação do diagnóstico de autismo, o encaminhamento pedagógico pode ser facilitado para essa criança, pois ajuda o professor a direcionar as melhores estratégias em sala de aula. Giovanna lembra que as pessoas com autismo, por exemplo, aprendem melhor visualmente por meio de imagens e vídeos, sendo tais recursos riquíssimos por facilitarem a comunicação com a pessoa com autismo. “É importante destacar que o diagnóstico não pode limitar um indivíduo. Por isso, precisamos entender que o portador de TEA é, primeiramente, uma pessoa, com anseios, interesses e potencialidades como todos os indivíduos, necessitando de oportunidades que o conduzam à sua realização pessoal, educacional e profissional”, esclarece a especialista.
Dicas para uma aula inclusivaDe acordo com a psicóloga, doutora em Educação e professora
Maria de Fátima Minetto, a inclusão faz parte da legislação brasileira e abrange a educação, “sendo assim, todo professor, independentemente de ter feito alguma especialização na área ou ainda precisar fazê-la, deve se preparar para esse processo”. A partir dessa necessidade, a professora Maria de Fátima, que também coordena o projeto de pesquisas na área da educação e das deficiências PraCriança da UFPR, destaca cinco dicas para uma aula inclusiva:
- Acreditar que você pode fazer algo por esse aluno. Muitas vezes, o professor pensa que, devido ao fato de o aluno ter uma deficiência, o processo de desenvolvimento de aprendizagem não vai acontecer ou, de alguma forma, ele não é capaz para isso. Todas as crianças estão em desenvolvimento e têm potencial de aprendizagem e, no caso do autismo, não é diferente. Mesmo sabendo que há diferenças entre um aluno com autismo e outro, todos eles podem aprender.
- Planejamento. A partir do momento em que o professor já sabe um pouco do que o aluno com TEA precisa, é necessário desenvolver estratégias de ação. É muito importante o trabalho em equipe, mesmo que a escola ainda não tenha um departamento especializado que possa ajudar. Nesse caso, o próprio professor tem que buscar sua rede de apoio para esse planejamento, que consiste em: ouvir a família, que sabe muitas coisas da criança; os terapeutas que atendem a criança, os quais podem contribuir com informações; e outros professores da própria escola, que já tiveram em sua turma alguma criança com autismo. Então, elaborar o planejamento vai ajudar muito no desenvolvimento dessas tarefas, pois o professor se organiza a curto, médio e longo prazo.
- Persistir na estratégia. Este é um passo importante: saber que a estratégia nem sempre vai dar certo e será necessário descobrir como tudo funciona. Muitas vezes, diante da primeira resistência da criança ou da primeira dificuldade que aparece, o professor desiste de uma atividade ou de um processo que foi planejado. Sendo assim, é preciso dar um tempo para as coisas acontecerem, insistir um pouco mais. Não se consegue tirar a fralda de uma criança apenas em uma semana, são necessários alguns meses para que a criança entenda aquilo. Então, o que se percebe é que muitas vezes o professor começa uma técnica, mas desiste; começa outra coisa, desiste. Não persiste por um tempo. É muito importante planejar e, a partir disso, ter persistência na ideia até verificar os resultados.
- Flexibilidade e criatividade. Com frequência, passam-se quatro, seis meses e o professor percebe que a estratégia adotada não está ajudando o aluno com autismo e, além disso, está causando uma desorganização na sala de aula. Então, trocar a técnica e entender até que ponto o professor está confortável é muito importante. Parar e pensar: o que pode estar acontecendo para que tenhamos pouco resultado? Nesse momento, precisamos ter criatividade, mudar algo, flexibilizar a forma como estamos trabalhando, lembrando sempre que, quando se fala em deficiências, a flexibilização e a adaptação do currículo são fundamentais.
- Identificar e absorver os progressos na Educação. Muitas vezes, desejamos a perfeição em nossos resultados pedagógicos, mas a verdade é que na educação especial e no ensino inclusivo isso não vai acontecer, porque não é sobre perfeição, mas sobre progressos. É fundamental identificar em quais áreas da educação desenvolveram-se novas técnicas, abordagens e estratégias, pois isso vai ajudar o professor nos próximos planejamentos pedagógicos. Pensar em inclusão envolve todos esses pontos, esse enfrentamento de uma mudança de ação diante da criança cujo desenvolvimento é diferente.
Esse conteúdo foi publicado no
Carreira e Futuro, do
G1 Paraná.
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